Artista paraense ganha elogios da crítica nacional

Foi dentro da academia de polícia que ela começou a ter vontade de “estar presente no trabalho”, que até então não incluía performances. “Uma coisa que me chamou muito a atenção na academia de polícia foi a punição dada aos policiais lá dentro”, conta. “Eles eram submetidos a alguns exercícios exaustivos de polichinelo ou agachamento, onde todos ficavam ao redor, presenciando. “Aquela cena humilhante me chamou muito a atenção como artista”.
Suas observações como perita a levou longe como artista. Em 2015, ela foi uma das representantes brasileiras da Bienal de Veneza. Naquele mesmo ano, ela expôs no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo a instalação A última festa. Em uma sala inteira forrada com papelão e iluminada com luzes vermelhas, tocava um som alto que misturava música de boate com sirenes e denúncias de violência que as pessoas fizeram à polícia por telefone. Em algumas mesas, bandejas cheias de suspiro. O público se dividia entre os que dançavam ao som da música, comiam o suspiro e os que entendiam – ou não – a obra. “As pessoas entravam e ficavam dançando, até perceber que o som era de violência”, conta ela.
Ela explica que o papelão era referência àquele usado para cobrir corpos quando há uma vítima fatal na cena do crime. O suspiro é doce e dá prazer, segundo ela, e faz alusão ao último suspiro antes da morte. “Meu trabalho é sobre como a violência se torna uma coisa aceitável, compartilhada, naturalizada”, diz. As pessoas têm um prazer mórbido com uma notícia desagradável, elas compartilham, querem ver”.


Para manter a violência muito presente, suas obras são, muitas vezes, rústicas, repletas de elementos mórbidos, como as vísceras e ossos humanos. Não são feitas de sutilezas. Causam impacto sem necessitar de um trabalho intelectual prévio do público, algo cada vez mais necessário na compreensão da arte contemporânea. “Minhas obras são diretas”, define. “Meu trabalho não tenta ter uma linguagem sofisticada porque ele não tenta conquistar a classe artística ou o meio intelectual”, diz, sem nenhuma arrogância. “Eu fico muito mais feliz se tiver gente comum vendo meu trabalho. Não faço a mínima questão de o meu trabalho ser intelectualizado, dele falar de algo com códigos extremamente sofisticados ou específicos que só uma parte da sociedade entende”.

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